Trump: uma lata de gasolina e um fósforo
Lido por aí: «Ela era corrupta, tem responsabilidades pela criação e financiamento do DAESH, ela e o seu partido têm culpa no cartório na guerra e no caos instalados em países como a Síria, Líbia e Iraque, ela é mais do mesmo; Votar nele é cortar com o sistema estabelecido, é uma forma do povo americano dar um puxão de orelhas ao poder corrupto em vigor; é um expressivo fuck the sistem. O senhor lidera companhias várias com milhares de empregados, é um caso de sucesso empresarial, quem melhor para liderar os destinos de um país do que alguém com tamanha capacidade de gestão, alguém que diz realmente o que pensa?!»
Tudo isto pode (e talvez seja) fundamentalmente verdade. Talvez o mundo não corra qualquer perigo com esta eleição surpreendente. Talvez o homem consiga to make America great again.
O que fica desta eleição não é a potencialidade de uma terceira guerra mundial, do uso de armas nucleares, mas algo de potencialmente mais perigoso, mais inflamável. O mundo estará a salvo, mas os estadunidenses estarão?
Quando alguém como Trump, com o discurso de Trump, com laivos racistas, xenófobos, machistas, homofóbicos, ganha as eleições, todo o seu discurso inflamatório acaba legitimado por aquela vitória.
O racismo, a xenofobia, a descriminação religiosa, a misoginia, saíram destas eleições como comportamentos aceitáveis.
Agora imaginem o que poderá acontecer quando este tipo de comportamentos se tornam admissíveis (pois se o presidente os tem, os proclama com orgulho), imaginem o que sucederá numa sociedade multicultural, multirracial, de extrema diversidade intelectual, supostamente evoluída no que à emancipação feminina diz respeito, às orientações sexuais dos seus cidadãos? Quais serão os reflexos sociais destes comportamentos agora legitimados?
Cisões. Conflitos. Agressões. Bastará um fósforo e uma lata de gasolina.