Trump e o humor
Quando Trump foi eleito escrevi um texto sobre o lado positivo dessa eleição, na tentativa de aplacar os meus medos — pela frente teríamos anos de pura animação, de humor desbragado e, ao fim ao cabo, havendo humor, até a caminhada para o cadafalso pode ser transformada numa barrigada de riso.
Se alguns espetadores destas eleições pensaram que aquela pessoa que se comportava como um doido lunático durante a campanha era apenas uma personagem, uma persona criada para cativar os descontentes, que a eleição traria aos olhos de todos um homem mais sensato, ponderado e menos histriónico, essas pessoas enganaram-se redondamente. Trump não perdeu tempo em dar material para os humoristas trabalharem. E, desde o primeiro dia após a vitória, o humor, a comédia não tem tido mãos a medir para carregar para a fornalha toda a lenha que lhe tem sido atirada.
Para alguns, o humor tem sido a mais importante arma de oposição às políticas de Trump, a melhor forma de expor as contradições dos seus atos e palavras. Todavia, para outros, fazer humor com algo tão sério, acarreta o risco da minimização, da normalização e, também, da saturação. É ainda uma forma de resistência passiva, sem qualquer retorno prático. A fixação na figura apalhaçada de Trump pode levar para segundo plano aquilo que será o mais importante, as suas políticas.
Sendo assim, será o humor a melhor forma de resistência ou será esse mesmo humor uma forma de habituação a uma realidade disruptiva e com contornos alucinados?
Não tenho uma resposta e talvez seja um pouco das duas coisas — resistência e assimilação.
Mas, fugindo a estas dúvidas incontornáveis, o certo é que o humor está a ser a arma de eleição, independentemente de ser a correta ou não. As audiências do programa Saturday Night Live dispararam no último mês, com os seus quadros humorísticos a disseminaram-se um pouco por todo o mundo. Os programas de Stephen Colbert, Trevor Noah, John Oliver expõem afincadamente as gralhas e absurdos diários de Trump e do seu staff e o segmento «a closer look» de Seth Meyers do Late Night Show tornou-se uma espécie de forma alternativa para perceber as notícias recentes sem ver um canal noticioso.
E no fundo, é um pouco como Trevor Noah explicou no Today Show — observar a realidade nos E.U.A. na atualidade é um pouco como estar a ver em primeira mão um asteroide em forma de pénis a aproximar-se da terra — há o pânico, o terror, mas há a inevitável galhofa causada pela forma do pedregulho que irá aniquilar toda a gente.
Saturday Night Live - Melissa McCarthy como Sean Spicer
Today Show com Trevor Noah
Late Night com Seth Meyers