Parada e quieta
Parada, quieta.
A notícia da manhã já não é a notícia da tarde.
A indignação de hoje já não será a indignação de amanhã.
A urgência da aurora será o esquecimento do ocaso.
A velocidade que levam, todos vós, com as vossas labutas, os vossos empreendimentos, as vossas ideias,
é tal que mal vos vejo passar. Uma fração de segundo e já cá não estão. Fica-me apenas o eco da vossa presença.
Mas vão uns e logo vêm outros. Agora, logo, ininterruptamente.
E eu…
Parada e quieta.
Quando vos ouço, quando vos consigo ouvir, dizem-me:
Deverias ler isto,
deverias ouvir aquilo,
Deverias ver aqueloutro.
Deverias falar com este e nem te atrevas a falar com aquele.
Deverias fazer isto,
evita fazer aquilo.
Ainda não foste ali?
Nunca vás acolá!
Compra isto.
Não vás à rua vestida com aquilo!
Não tens isto?
Mas é isso mesmo o que pensas?
Como te atreves?
O que raio tens na cabeça?
— Eu? Nada. Estou apenas para aqui
Parada e quieta.
Sónia Pereira