O ridículo — o novo paradigma do carisma
Com a passagem dos meses, a ideia de Donald Trump chegar a presidente dos E.U.A. saiu do campo dos pressupostos caricatos para o campo da possibilidade real e o riso e escárnio que tal personagem inspira em alguns/muitos de nós começa-se a transmutar lentamente em medo. É certo que a ala republicana sempre teve candidatos hilariantes, histriónicos, mas Trump é realmente uns quantos degraus acima nas escadas do populismo.
Acho que poderia tentar fazer uma análise de como pessoas destas escalam, com sucesso, até ao poder, mas não sou analista política, socióloga ou algo que me habilite a fazer uma análise válida. Esta análise aqui parece-me, no entanto, bastante interessante.
Todavia, é inevitável focar-me num único ponto que é, para mim, gritante — o ridículo. Nos últimos tempos têm surgido paralelismo entre o discurso de Trump (xenófobo, racista, anti-imigração, islamofóbico, nacionalista) e o discurso de Hitler, aquando da sua ascensão ao poder. Poderá ser uma comparação simplista e redutora esta comparação de duas personagens distintas em épocas históricas distintas, mas também a mim me parece que o discurso de Trump tem um potencial inflamatório, perigoso, potenciador de conflitos. Mas o que mais salta à vista é mesmo o aspeto ridículo destes dois personagens.
O que raio se passa com a sociedade e a propensão para ditadores com aparência ridícula? Não é uma questão de ser feio ou bonito, é mesmo o fator ridículo que, a meu ver, causa quase uma impossibilidade de levar certas pessoas a sério. No entanto, estes dois, embora portadores da centelha do ridículo, levam-se (ou levaram-se) e são levados (ou foram) muito a sério por uma quantidade substancial de pessoas.
Será o ridículo o novo paradigma do carisma?