O circo chega à cidade
Fujo dos circos como o diabo foge da cruz. Acho as artes circenses interessantes, mas o uso de animais selvagens como fonte de atração sempre me pareceu despropositada e cruel. Mais do que ver os animais a desempenharem os seus números, aquilo que sempre me pareceu inadequado é a forma como aqueles animais são transportados e vivem o seu dia a dia. Jaulas minúsculas que não serviriam nem para acomodar um cão ou qualquer outro animal doméstico quanto mais um animal como um leão ou elefante. Ver um animal que deveria estar no seu habitat selvagem a desempenhar pequenos truques, acrobacias, não me causa qualquer júbilo ou espanto, consegue apenas causar-me uma imensa tristeza por perceber que aquele animal é um ser encarcerado, um prisioneiro obrigado a desempenhar uma performance para meu suposto bel-prazer.
Claro que este problema se encontra não só nos circos, mas também em zoológicos, em que os animais são expostos em pseudo-habitats reduzidos como forma de exploração comercial de um encarceramento. Há algum trabalho de conservação envolvido, mas o comércio e exploração animal ultrapassa largamente esse aspeto beneficente. Conseguimos perceber em alguns deles o stress de estarem confinados em tão pequeno espaço e de terem visitantes constantes a desorientá-los com as suas presenças.
O meu problema específico com o circo só o começou a ser depois do meu filho nascer. A cada cartaz colocado pela vila com a chegada do circo, ele pede veemente para irmos ver. Os amigos vão, os colegas vão, ele também quer ir. Mas a minha ética não me permite conceder-lhe este desejo. Não quero compactuar com a crueldade, com o que me parece ser uma exploração animal sem escrúpulos e sem fundamento. Até porque acho que o circo tem diversas artes performativas e acrobáticas que fariam de uma ida ao circo um espetáculo imperdível, mesmo sem a presença de animais. Por isso, qual a razão desta insistência em manter um espetáculo com características quase medievais?
Com a aproximação do Natal, são vários os cartazes de espetáculos de circo espalhados pelos sítios por onde passo e com eles começam as minhas manobras de fuga e distração infantil, as minhas explicações para o meu veto do circo. Em parte, ele percebe, mas não deixa de ficar triste com a minha recusa.