Nomes e números
Um atentado na Turquia e um atentado na Costa do Marfim não rendem notícias além de 24 horas. Um atentado em Paris rende semanas de diretos televisivos, reportagens escritas, peças radiofónicas, reflexões sobre o sentido da vida, sobre o escalar da violência no ocidente, notícias sobre a sorte dos que escaparam e sobre o infortúnio dos que pereceram.
Num atentado na Turquia ou na Costa do Marfim não morrem pessoas, morrem números — números de mortos. Num atentado de Paris, o número tem nome, o número é Jean Pierre, Marie ou Maurice, o número tem história, tem família, tinha sonhos e aspirações. Num atentado além Europa ocidental, o número é apenas e só parte de uma equação (o diabo de uma subtração).
E se um atentado na Turquia ou na Costa do Marfim sobreviver a 24 horas de notícias, será apenas para frisar que nenhum cidadão português por lá morreu, que nenhum nome de sonoridade familiar sobressaiu daquela lista de números, daquele somatório de corpos.