Motivos, desculpas, bitaites
As razões de uma exposição pública através da escrita nem sempre serão nobres. Mascarada, não raras vezes, de partilha de opinião, usufruto da alcançada democratização do direito à ideia própria, a escrita em espaço público (redes sociais, blogues) não passa, muitos serão os exemplos, de uma necessidade de valorização pessoal, uma procura de reforço positivo ou, numa oposição, uma provocação que pretende desencadear reações menos benevolentes por parte de quem lê/comenta. Muito se poderia discorrer sobre os conflitos que habitam dentro de cada um de nós, seres humanos, para sentirmos esta necessidade de expressão, seja pela procura da confirmação ou pela provocação.
Eu não sou diferente. Não sou diferente desta massa de gente que larga bitaites diariamente na internet. Alguns bitaites refletidos, outros bitaites impulsivos que não serão propriamente caraterísticos, na vida do dia-a-dia, de quem os escreve, mas que deixam uma mancha de fúria, ódio, causando um sentimento assustador em quem os lê. Apenas fui mais recatada. Até hoje. Mas depois do impulso e antes de debitar estas palavras no computador, tentei perceber o que me move, as razões implícitas à necessidade de partilha das minhas ideias. E não há nada de nobre nas minhas razões. A solidão será o mais forte dos motivos. Falar sozinha, falar com o cão, discorrer em pensamentos durante horas, acaba por servir quase sempre os meus propósitos. Quase sempre, mas nem sempre.
Todavia, esta coisa da solidão tem muito que se lhe diga. Embora desterrada numa localidade pequena, não vivo só, falo diariamente com pessoas, mas não daquilo que gostaria de falar. E claro, a suposta solidão nada mais será do que um certo egocentrismo traduzido numa necessidade de que me ouçam, mesmo que este meu «grito» ecoe por todo lado e seja ignorado. Para mim, o ato de gritar encerra em si valor que chegue. Uma nova forma de falar sozinha, mas com a impressão de ter uma enorme plateia interessada.