A paixão consome
Ontem, quando fui buscar o meu filho à escola, ele tinha uma grande novidade para me contar. Tinha uma namorada. Uma colega de escola arrebatara-lhe o coração.
— Mãe, eu «amo-la» tanto.
O erro gramatical só me fez achar ainda mais graça à situação. Estamos a falar de uma criança de 6 anos e da sua perceção do amor e aquela frase roubada dos adultos tornou a conversa muito caricata. E que conversa. Já metia lutas ao barulho, pois outro colega demonstrava semelhante interesse pela mesma menina e pairava o perigo do tal lhe «roubar» a namorada.
Depois da escola, fomos ao supermercado e, não fosse ontem o dia dos namorados, a evidência consumista da data estava em todo lado. Eram chocolates, flores, perfumes, peluches.
O meu querido filho, como principiante nestas viagens da paixão, deixou-se levar pelo ímpeto consumista/amoroso. O amor teria de ser demonstrado por uma oferta especial.
— Tenho de lhe oferecer uma prenda dos namorados, mãe. Pode ser?
O arrebate era tanto que o magano queria comprar chocolates, livros, peluches e brinquedos para oferecer à namorada nova. Tive de refrear aquele consumismo «valentínico» desenfreado, mas não pude negar um pequeno presente. Uma caixa de bombocas de chocolate.
Hoje, lá foi ele para a escola com o presente embrulhado e um desenho feito com muita dedicação (cheio de corações vermelhos) para ofertar à sua colega namorada.
Em suma, apesar do altruismo da compra, a paixão é consumista, a paixão consome.