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Quimeras e Utopias

Quimeras e Utopias

Pessoas em trânsito - primeiros e últimos encontros

Conhecer pessoas é bom, mas é também algo agridoce, um sentimento ambivalente de alegria e perda.

Quando estou em viagem e conheço alguém do país que estou a visitar ou alguém em trânsito, percebo que conhecer formas de ver o mundo fora da minha bolha existencial é essencial, mas é também doloroso, no sentido em que se percebe que cada nova pessoa que se conhece, provavelmente será a primeira e a última vez que a vemos e a ouvimos. Temos a possibilidade, a última, de trocarmos ideias com uma pessoa que acabamos de conhecer.

Na Sardenha, conhecemos o jovem Ricardo, dono do alojamento onde ficamos hospedados, que desejava que amassemos Cagliari e a Sardenha como ele a amava. Um condutor desastroso, mas muito simpático, cujas instruções nos ficaram como um lema de vida: First, breakfast in Marinela, then supermarket and Pacuya. Tudo se resolve com um bom pequeno-almoço à beira mar, o resto logo se verá.  

Em Košice, na Eslováquia, conhecemos Lucia, a mulher que fazia a limpeza do nosso alojamento. Contou-nos que tinha vivido na Grécia, quando fora casada com um grego, e que sentia imensas saudades das saídas com as amigas, conversas em esplanadas, o saborear dos pequenos momentos de confraternização entre amigos, algo que é, aparentemente, coisa bastante mediterrânica e menos habitual na cultura dos países eslavos. Senti vontade de sair com ela, de irmos tomar café a uma esplanada e desejei que encontrasse amigas que lhe fizessem esse pequeno agrado: conversa e café numa saída num dia de sol. Lucia era uma alma do sul europeu presa num corpo eslavo. 

Ainda na Eslováquia, conhecemos um taxista/condutor de Uber ucraniano. O jovem Vladimir estudava para ser Engenheiro de automação industrial e tinha o sonho de ir trabalhar para a Alemanha, quando tivesse o curso terminado. Contava-nos que já não via a família há algum tempo: ele não podia ir à Ucrânia, pois podia ficar retido para servir no exército, e a família não conseguia sair de Kiev para o visitar. Garantia-nos que eles estavam bem, lá na Ucrânia, porque na capital a guerra não se fazia sentir lá. Dois dias passados, vi a notícia de um ataque russo a Kiev, com várias vítimas mortais e recordei Vladimir. A procura de um sonho com uma guerra como pano de fundo.

Em Praga, conhecemos um condutor de Uber uzebeque, que nos salvou de uma eminente perda de avião. Sem falar inglês, entre tradutores automáticos, gestos e palavras soltas, chegamos a tempo ao aeroporto. Por vezes, a língua não é barreira que impeça conexões, ligações improváveis.

Nos lagos de Plitvice, na Croácia, conhecemos uma família chinesa ─ mãe, pai e dois filhos adolescentes ─ , que viviam em Paris. Depois de confessarmos a nossa vontade de conhecer a China, deram-nos vários conselhos de locais a visitar, de uma possível rota de viagem, levando em troca uma lista de atrações portuguesas a visitar numa futura viagem a Portugal.

A Europa é este mosaico composto por fragmentos e cores diferentes, de pessoas em trânsito, de pessoas de cá, lá, de pessoas de cá, lá, de locais que sonham com diferentes paragens, de locais que amam as suas paragens.

E enquanto escrevo este pequeno texto, penso que estas pessoas que coloriram os meus dias de viagem, que me fizeram ver para além do meu pequeno mundo, talvez nunca mais as veja, talvez nunca mais lhes ouça a voz. Mas mesmo nessa certeza de primeiros últimos encontros, foi bom conhecê-las.

Escritores, criminosos e motores de busca da internet

Fui procurar na internet informação sobre um modelo de arma para um texto que estou a escrever. Introduzi no motor de busca: “Que armas usa a PJ?” Depois de explorar os resultados apresentados, de um site pulo para outro, procurando dissecar os componentes de uma pistola Glock 26.

Entretanto, pesquiso também as partes que compõem o cérebro humano. Quero saber que partes do cérebro serão afetadas por um tiro na têmpora direita.

Balanço entre dois separadores de pesquisa: um com um cronograma, como as instruções de montagem de um móvel do Ikea, que mostra todas as partes de uma pistola Glock, com respetiva legenda das peças em inglês, e outro separador onde o cérebro humano é apresentado por zonas e cores, para melhor se diferenciarem os lobos que o compõem. Neste vai e vem, dou-me conta de que o histórico do meu motor de busca da internet é esquisito. Esquisito e suspeito.

Não muito tempo antes, para uma outra história, investiguei sobre a morte por afogamento, sobre um naufrágio catastrófico no século XIX que levou à morte mais de cem pescadores; num outro texto, a investigação incidiu sobre plantas venenosas mortíferas. De uma que me cativou, por se encaixar no enredo que pretendia para a história, pesquisei a fundo sobre os seus componentes e respetivos efeitos se ingerida pelo ser humano. “Quais os efeitos do consumo de acónito?”

Mas as minhas pesquisas recentes já passaram por ainda mais suspeitas questões ao Dr. Google: "esfaqueamento do pescoço com perfuração da veia jugular; decomposição de cadáveres, estágios de decomposição; exames toxicológicos após autópsias para perícia legal; mesas de autópsia, frigoríficos funerários, disciplinas universitárias na especialização de medicina legal, ataxia, lesões medulares após acidentes de viação", entre outras pérolas de curiosidade.

Com um histórico destes, dei por mim a perguntar-me, num tom de brincadeira, como seria se alguma coisa acontecesse, alguma coisa má que fizesse a polícia ter de vasculhar o meu histórico do computador? Como poderia eu explicar estas pesquisas? Poderia sempre alegar que nenhum criminoso seria assim tão descuidado com a sua curiosidade, mas o certo é que temos tido conhecimento de histórias de alguns que já o foram – comicamente descuidados.

Será a minha curiosidade, enquanto pessoa que escreve, mais mórbida do que a de um criminoso? Será a minha curiosidade semelhante à de todos eles, criminosos?

Numa volta completa ao ciclo da curiosidade, decido um dia escrever um conto sobre isto: sobre um escritor caído nas malhas policiais devido à sua curiosidade sem limites.

Da Coreia com amor

A vida real está mais próxima de ser um filme do Manoel de Oliveira do que de um qualquer K-drama.

E talvez por vivermos num loop, mesmo que acelerado, de rotina e mediania, se instale uma necessidade (incontrolável, patológica) de escape.

Quando era adolescente, esse escape dava-se com a novela da noite, onde havia drama, romance, conflito, confusões e muita agitação. Os livros também serviam para isso, mas com a novela era tudo levado aos extremos da suspensão da realidade, era tudo muito, uma apoteose de excessos. Uma mesma história que se fazia render por meses e nos apanhava frente à televisão, obedientes, todas as noites.

Mas as décadas de 80 e 90 já lá vão e, como dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Hoje em dia, há menos paciência para se esperar religiosamente por um episódio diário de uma novela, à hora marcada, e muito menos vontade de ser agarrado por uma mesma história, partida e retorcida de todas as maneiras e feitios, durante meses a fio.

Nos tempos modernos da rotina, da réplica apurada, da repetição das mesmíssimas coisas, o escape perfeito, na forma de entretenimento, chegou com os K-dramas, séries televisivas sul coreanas, com uma estrutura em tudo semelhante à das telenovelas, com direito a todos os elementos hiperbólicos próprios das ficções televisivas: sofre-se muito, ama-se muito, sobrevive-se espantosamente a ferimentos supostamente fatais (saraivadas de tiros, facadas várias), tem-se direito a todos os comic relief da praxe, a todas as tensões familiares com reviravoltas inauditas (o Sa-Eon afinal é filho do avô, irmão do suposto pai e tio do irmão), a vilões que navegam entre serem desprezíveis e terem, ainda assim, traços de humanidade, com passados traumáticos que trazem uma maior complexidade à sua vilania.

Os K-dramas, em apenas 12 a 16 episódios, levam-nos por uma montanha russa de conforto esquisito. E é esquisito porque por lá, para além de todos os elementos identificáveis dos enredos televisivos clássicos, temos ainda outros elementos completamente fora da caixa, culturalmente falando. E alguns deles são adoravelmente esquisitos.

Dissecando este Adoravelmente esquisitos, temos um rol de elementos gráficos e sonoros que se apropriam das séries: apontamentos sonoros, típicos da comédia televisiva mais empastelada, como se estivéssemos a ver os Malucos do Riso; entradas gráficas no meio da imagem, animação misturada com imagem real, grafismos de BD, etc., imagem em câmara lenta nos momentos chave, cabelos sacudidos por ventanias que não deviam lá estar. Do que já vi, posso assegurar que todos os K-dramas têm ainda as quase quedas (em escadas, escadarias e sítios perigosamente altos) que são evitadas por uma mão, um braço amigo, que deixa as personagens em posições equilibristas absurdas.

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Business Proposal - Netflix

Há ainda a clássica sessão de bebedeira, em que a personagem, em situação vulnerável, chiba-se adoravelmente de todas as suas inseguranças e aspirações. E o que aquele pessoal bebe. É muito álcool ingerido, deixando-nos a nós, portugueses, campões do mundo de consumo de vinho, como uns meninos a olhar para aquelas sessões diárias de consumo alcoólico de fazer tombar mesmo as personagens fofinhas e bem comportadas.

Outro elemento de contraste é a forma como a tensão romântica é tratada. Não haverá ninguém no mundo que demore tanto a meter uma personagem a beijar outra. Parece existir um elemento de quase pudor na forma como as relações românticas são tratadas. E este elemento de não concretização romântica esticado até ao absurdo é, no entanto, aquilo que torna estas séries coreanas tão diferenciadas de tudo o resto que é feito nos mesmos moldes. Temos a interação das personagens, a aproximação física, o instalar do romance, mas o beijo é como o raio de um orgasmo, transportando a ficção coreana para uma espécie de idade da inocência, onde um encostar de lábios causa uma explosão apoteótica nos espetadores (o que não é de admirar. Por norma, numa série de 12 episódios, o cândido beijo chega por volta do oitavo episódio).

Interessante ainda é, no meio de uma estrutura narrativa muito hétero normativa, onde o homem desempenha o papel de cavalheiro que auxilia a personagem feminina, abrindo-lhe portas, evitando que seja atropelada e afins, termos elementos que desafiam os mais rígidos estereótipos de género: mulheres duronas, que chefiam empresas e são brutas e implacáveis, e homens que choram. E o que se chora nos K-dramas. O que há de falta em beijos e cenas de teor mais sensual/sexual, há-o de sobra em choro. As lágrimas rolam faces abaixo de homens e mulheres, as expressões de desorientação e desamparo não têm género e na dor é tudo igual.

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O ator Kim Soo- hyun em It's Ok not to be Ok, Netflix.

No que aos homens diz respeito, há ainda o apuramento de uma imagem que, por cá, não está diretamente ligada à imagem clássica do estereótipo masculino: os homens raramente têm barba (talvez algum vilão a tenha), os rostos de porcelana fazem inveja a qualquer mulher que tenha os seus cremezitos comprados em dia, feições esteticamente apuradas a puxar para uma quase androgenia, narizes e bocas perfeitos, altos, esguios, mas musculados. Homens irritantemente bonitos, com uma beleza que desafia os conceitos estéticos ocidentais. As mulheres também são esbeltas, claro está, mas isso, nós, ocidentais, já estamos habituados.

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O ator Ahn Hyo-seop

E dentro destas fantasias romântico dramáticas que são os K-dramas ─ homens bonitos a chorarem baba e ranho, beijos adiados até o espetador sentir uma tensão que é já de cariz sexual (mesmo que a concretização seja beijos muito técnicos e puros) ─ , o amor vive na sua única faceta possível, nesta atualidade que nos resta:

Irreal, hiperbólico, como o escape perfeito para a repetição dos dias.   

Guilty pleasures literários

Sempre me meteu um bocado de confusão esta expressão – guilty pleasure – como se houvesse sempre uma carga de culpa implícita naquilo que nos dá prazer. Como se o prazer, em si, fosse sempre do domínio do pecaminoso e do proibido.

Trazendo este prazer obscuro para o campo da literatura, associamos sempre o prazer culpado com a literatura considerada menor. Da boca dos grandes autores, vemos sair uma ladainha de escritores de culto como referência estruturante dos seus eus literários, imaginamos infâncias rodeadas de pesadas estantes pejadas de clássicos, do chão até ao teto; São-nos referidos Proust, Tolstói, Dostoiévski, Eça de Queiroz como os timoneiros dessas carreiras literárias, como se nunca nenhum prazer impuro lhes tivesse entrado retina e cérebro adentro. O prazer culpado terá assim de sobrar para os restantes leitores menos afortunados pela centelha do talento.

Mas por que é que essa dita literatura menor é considera menor? Será a qualidade da escrita, a qualidade literária ou tão só o género literário como zona limítrofe do que pode ou não pode ser considerado erudito e, como tal, de categoria superior?

Embora os géneros literários não sejam estanques e seja possível uma infiltração genérica em tudo o que se escreve, há, ainda assim, uma categorização genérica implícita na valorização literária: géneros como o policial, o romance romântico, o romance erótico e até mesmo géneros como a fantasia e a ficção científica são considerados literatura menor, independentemente da qualidade literária específica do autor/livro em questão.

Acho que, até entrar na idade adulta, nunca tinha pensado naquilo que escolhia para ler como passível de ser classificado como menor e, mesmo me proporcionando desmesurado prazer, não poderia haver qualquer culpa associada a nenhum dos livros que escolhia ler. Até chegar aos meus 18 ou 19 anos. Até essa idade era leitora de livros comprados, mas também de livros emprestados pela biblioteca. E na inocência das primeiras escolhas li de tudo um pouco, em descobertas muitas vezes aleatórias que me levaram à descoberta de autores como Patricia Highsmith, no seu Talentoso Mr. Ripley, a Edgar Allan Poe e os seus contos fantásticos, passando pelo Saramago – o meu grande crush adolescente, Agatha Christie, e Patrick Süskind no seu perturbador O perfume, Milan Kundera, Isabel Allende e Marion Zimmer Bradley. Por essa altura, a possibilidade daquilo que lia ser considerado menor ou maior não me passava pela cabeça. Ler e gostar de ler parecia-me o suficiente.

Frequentando já o ensino superior, na última metade da década de 90, e rodeada de uma espécie de elite de erudição, fui confrontada pela primeira vez pela possível menoridade das minhas escolhas. “Brumas de Avalon? Isso é literatura a metro”, disse-me uma das minhas colegas de curso. Os quatro volumes de fantasia histórica que compunham a obra de Marion Zimmer Bradley não chegaram a vir parar todos à minha estante, porque aquela interjeição que menorizava a qualidade das minhas escolhas já não me permitiu, em boa consciência, comprar o último volume em falta.

A partir desse dia, fui tentando manter-me dentro das linhas traçadas do Monte Olimpo literário, com algumas recaídas espalhafatosas. Uma tara por policiais nórdicos foi talvez a mais duradoura fuga às linhas estanques da superioridade literária. Entre os meus 30 e 40 anos, lia um policial do Nesbø intercalado com um Dostoiévski, só para não me sentir tão culpada, lia um da Camila Läckberg, seguido de A morte de Ivan Ilitch, para estancar a deterioração da minha sapiência. Cada palavra menor que lia carcomia-me, certamente, o corpo todo, circulando-me pelas veias, invadindo cada pedaço de mim, afundando-me no lodo do prazer proibido.

Até me colocar a questão: O prazer da leitura vinha, em exclusivo, destas recaídas literárias para terrenos obscuros ou eu sentia essa fruição com as leituras consideradas de qualidade superior?

A leitura é coisa tão única que pode levar-me a essa sensação de fruição, de prazer por uma diversidade de caminhos: por vezes sinto prazer com uma leitura que me deixa inquieta, que me confronta com o medo, com o desconhecido, com as minhas fragilidades e hipocrisias; há leituras que me deixam desarrumada, desnorteada, em conflito comigo e com o mundo, outras que me deixam furiosa, histérica, alegre, melancólica, a flutuar num êxtase despreocupado, que me fazem rir para logo me deixar estarrecida perante o confronto com essa minha gargalhada parva, mas não havendo desistência ou arrependimento, por muito diversas que sejam as emoções que chegam com a leitura, todas elas estão dentro do campo do prazer, mesmo quando é um prazer sádico, masoquista ou até mesmo entediante.

Não havendo frete, há prazer, mesmo que haja desnorte à mistura.

Com isto, percebi que havia prazer em cada página lida, não apenas naquelas onde colocava o selo da culpa associada. Almejava regressar a um livro com a mesma ansiedade quer se tratasse de Crime e Castigo ou o galopante O Pintassilgo. O deixar-me levar pelos livros não estava ligado a um género/relíquia conservado dentro de um quarto hermeticamente fechado.

Ainda assim, quando, há uns tempos, peguei numa comédia romântica, fi-lo com alguma culpa, porque uma coisa era gostar de policiais, outra era descer até às profundezas da ligeireza das adolescentes comédias românticas (alerta de ironia). Sentia o meu coração bater furioso a cada virar de página… Porra, o prazer a verter-se das páginas para o meu corpo físico, mas era segredo, não podia ler aquilo, ou até podia, mas não deveria gostar, deveria ser uma leitura como um safari de exploração de selvas alheias, uma leitura como um trabalho académico sobre escrita ligeira e literatura light.

Sónia Pereira, andas a ler Saramagos quase desde que aprendeste a ler, andas a ler os russos quase desde que abriste os olhos, leste os clássicos nacionais com um insólito deleite que causou repugnância aos teus colegas do secundário e agora acabas afundada dentro destas páginas. Que miséria, que desilusão, nunca pensei desceres tão baixo e nunca pensei que o fizesses com um sorriso parvo estampado no rosto.

Red, white and royal blue levou-me de volta a um sentimento primário na leitura, como se trinta anos se tivessem dissolvido e eu fosse aquela adolescente ainda intocada por preconceitos literários, frente às estantes de uma biblioteca municipal quase só minha, a vaguear por entre corredores de livrarias com os seus escaparates que me seduziam, onde uma mão nunca se tolhia no seu movimento exploratório de pegar e folhear um livro só porque o livro era um Isto ou um Aquilo.

Com estes derradeiros parágrafos não quero dizer que todos os livros em que possa pegar sejam, apenas porque chegaram ao prelo e às livrarias físicas ou virtuais, de qualidade indubitável, dignos da minha leitura (presunção e água benta… ), mas tenho de me cobrir da certeza de que décadas de leituras diversas me levam a fazer escolhas que devo valorizar, independentemente do género literário em que são escritas.   

E assim, deixo três sugestões de leitura, três géneros literários muito diferentes, uma vida de culpa velada em três escolhas:

Fantasia Histórica:

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As brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley  (lido na adolescência).

 

Comédia romântica:

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Vemelho, branco e sangue azul, de Casey McQuiston (lido há um ano).

 

Policial:

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A boneca, de Yrsa Sigurdardóttir. (Uma das minhas leituras atuais.)

 

Mas agora sem culpa.

Luigi

A celebração da morte de alguém parece coisa ligada à falta de escrúpulos, de empatia. Ninguém “normal” se deveria sentir eufórico com a morte violenta e inesperada de uma pessoa que nem conhece.

Há, no entanto, um entendimento tácito nas nossas sociedades ocidentais que criam exceções a essa regra. Aquele que parece um desejável comportamento social humanitário, de amor ao próximo, não é à prova de bala e está cheio de buracos. Podemos festejar a morte violenta de ditadores, lançar foguetes quando limparam o sarampo ao Bin Laden e a outros de semelhante candura. Em países que têm o castigo da morte como medida corretiva no seu código pena, podemos celebrar a execução de criminosos sem que nos caia em cima a acusação de sermos uns psicopatas.

Estes parágrafos iniciais não pretendem ser acusatórios, uns parágrafos de distanciamento entre mim e os foliões da morte. Não o é, de todo, porque também eu a festejo. Não há acusação, mas tentativa de compreensão. Porque é que os nossos escrúpulos e empatia pelo próximo estão tão cheios de compartimentos de exceção?

Quando um CEO de uma companhia de seguros de saúde é assassinado em plena rua, numa cidade movimentada, o circo mediático instala-se. A imagem do alegado assassino que aparecia nas imagens, inicialmente ainda não identificado, não era a imagem de um criminoso. O público aceitou-a como a imagem de um justiceiro. E não interessava nada que meia dúzia de pessoas, nos comentários das notícias sobre o brutal homicídio, ressalvassem a ideia de que aquele homem assassinado era também um filho, um pai e um irmão de alguém, porque as suas escolhas de vida, a sua profissão sem escrúpulos, que coisificava o ser humano e o transformava numa fonte de lucro, justificavam tudo. E se formos a ver bem, todos os outros criminosos também não teriam uma família que os amava? Não seria Bin Laden amado e chorado pelos seus filhos?

Quando o nome e os detalhes da vida do alegado assassino nos saltam para a frente dos olhos, Luigi Mangione, não só devido ao seu ato aparentemente justiceiro, mas também devido à sua juventude, aspeto e background familiar – um bonito rapaz de boas famílias, estudioso, bom aluno – transforma-se num herói das redes sociais e também uma espécie de herói norte-americano. Um jovem herói que decidiu fazer justiça pelas próprias mãos, quando o sistema está danificado e só um salvador o pode fazer abanar.

É difícil andar pelas redes sociais e não dar de caras com memes, vídeos de teorias de conspiração, vídeos de humor, vídeos informativos dando conta de cada passo de Luigi, o novo herói, e onde a vítima, o raio do CEO que já ninguém se lembra o nome, parece peça de somenos importância na equação. De todos os vídeos e memes, sobra apenas um novo ídolo instantâneo.

Fico a matutar nesta necessidade contemporânea de criar heróis, porque o sistema onde nos inserimos, enquanto cidadãos, não é transponível e não parece ser permeável à força pela quantidade, apesar de sermos milhares de milhões em todo mundo. Mas nem a quantidade nos salva. Precisamos de heróis, porque a probabilidade de vencermos, ao contrário do que é costume, é maior se lutarmos sozinhos, do que enquanto sociedade, enquanto grupo totalizante. E esta ideia de o jogo estar viciado, a ideia de que a nossa quantidade de nada vale contra quem está no comando de isto tudo, é terreno fértil para os heróis.

Nos EUA, 335 milhões de pessoas não conseguem mudar um sistema de saúde que não é público, de acesso generalizado, que deixa morrer, caso o cidadão doente não tenha um seguro ou uma cobertura à medida da necessidade que surge, um sistema que deixa os seus cidadãos endividados, que os leva a fazer escolhas impossíveis e onde chamar uma ambulância parece uma estravagância a ser cuidadosamente ponderada. Mas um único cidadão consegue, pelo menos, chamar atenção para a aberração do sistema.

No entanto, não deveríamos precisar de heróis. A sociedade perfeita seria uma sociedade sem salvadores, uma sociedade coesa apesar da sua diversidade e pluralidade. A utopia das utopias é uma sociedade sem necessidade de heróis. Se precisamos de salvadores instantâneos é porque as coisas não funcionam com justiça, igualdade, equidade e empatia, tal como deveriam funcionar.

Se vibramos, na ficção, quando o psicopata Dexter estraçalha brutalmente as suas vítimas, se torcemos para ele não ser apanhado porque canaliza a sua psicopatia para tirar das ruas os maus da fita, é porque os conceitos em que nos apoiamos para erguer as nossas sociedades estão todos subvertidos.

Ou talvez, toda esta ideia que tentamos vender de nós próprios, enquanto seres humanos – de sermos seres empáticos, racionais e com forte sentido de preservação da espécie, seres primitivamente bons, incapazes da crueldade –, seja uma autêntica aldrabice.

Segundo aquilo que apregoamos de nós próprios:

Nenhum ser humano deveria festejar efusivamente o assassinato de outro;

Mas nenhum ser humano deveria negar assistência médica a outro, preterindo a vida humana em relação ao lucro;

Nenhum ser humano deveria promover um sistema que decide sobre a vida e a morte de outros seres humanos, reduzindo-os a um número numa tabela contabilística.

Quando temos o nosso sistema de suporte, enquanto sociedade, roído por dentro até às fundações, urge a necessidade de heróis. No entanto, o potenciamento de heróis fertiliza o terreno para o surgimento de todo o tipo de salvadores, profetas, santos e seres humanos elevados a um patamar de culto sem escrutínio. Não devíamos precisar, enquanto sociedade, de quem nos salve. Não quero ser uma vítima à espera de um milagroso salvador.

Mas havendo heróis, ao menos que sejam heróis coletivos.

A ficção especulativa dos nossos dias

Uma rapariga está sentada, vestindo apenas roupa interior, entre homens trajados à ocidental e mulheres tapadas dos pés à cabeça, envergando hijabs, capas negras esvoaçantes, como aves de mau agoiro.

Nas imagens, vê-se o deambular da rapariga pelo recinto escolar, depois na rua, para, momentos depois, ser abordada por viaturas (da polícia) e ser detida.

Da parte da Amnistia Internacional vem a informação do espancamento e da violência sexual sofridos pela jovem durante a detenção, depois daquilo que se julga ter sido um protesto contra o código de vestuário obrigatório no país, controlado até às últimas consequências pela polícia dos costumes.

Da parte do porta-voz da Universidade Azad, em Teerão, a informação divulgada é que a rapariga em questão sofre de distúrbios mentais.

Este tipo de revoltas individuais, vistas por nós, ocidentais, afiguram-se como pequenos episódios que nos recordam que, em certas partes do mundo, ainda se vive numa espécie de distopia, em universos sociais dignos de romances de ficção científica. Mas estamos bem, temos as nossas liberdades garantidas e consideramos que aquilo nunca poderia por aqui acontecer.

Quando li a notícia sobre os protestos da jovem Ahoo Daryayee no Irão e os problemas mentais foram dados como justificação, lembrei-me de uma outra história, essa passada no nosso bom Portugal. O ano era o de 1918 e uma mulher da alta sociedade, casada e mãe, resolve fugir com o seu motorista, vinte anos mais novo. O marido, homem influente, conseguiu que mulher e amante fossem perseguidos e apanhados pelas autoridades. O destino dela seria o internamento psiquiátrico compulsivo e o dele, o amante, a cadeia. Na época, vários médicos de renome atestaram as perturbações mentais de Maria Adelaide, a mulher infiel. Egas Moniz, Sobral Cid e Júlio de Matos anuíram em certificar uma loucura que não estava lá. Mas Maria Adelaide, mesmo com a vida destruída, o acesso aos seus bens vedado, não se calou. Falou com a imprensa, escreveu um livro. Após várias investigações jornalísticas, percebeu-se que o internamento psiquiátrico era usado na época como ferramenta corretiva feminina, ferramenta de castigo e de formatação. Centenas de outras mulheres tinham caído em instituições psiquiátricas só por não caberem na malha apertada do comportamento adequado, só por tentarem ter voz própria, opinião própria.

Um século passado, a justificação do distúrbio mental por parte das autoridades iranianas ressoa de uma maneira especial: toda a mulher insubmissa é louca, toda a mulher com voz própria é histérica e maluca.

Mas será esta versão alternativa da realidade, onde as mulheres podem ser silenciadas pelas vontades de um estado religioso ou pelas vontades dos seus maridos, com conivência de instituições públicas, uma coisa datada, do século passado ou, exclusiva, na atualidade, das sociedades consideradas subdesenvolvidas, autocráticas, ditatoriais e teocráticas?

Lia uma notícia sobre Trump ter lançado, há uns meses, uma bíblia a que chamou “God Bless America”, onde colocou desde excertos da bíblia original ao hino da sua campanha eleitoral. E, já se sabe, nenhum movimento de qualquer que seja o candidato a umas eleições é livre de ser um simples movimento. Não há aqui convicções religiosas, puro interesse moral. Há, isso sim, a perceção de se estar num país fortemente tomado por crenças evangélicas. Existem, nos E.U.A., 480 000 igrejas evangélicas, fazendo fé no artigo de Pedro Moraes para a CNN Portugal. Sendo que uma grande parte destas instituições se rege por crenças fortemente conservadoras e, no que aos direitos das mulheres diz respeito, altamente reacionárias, o apelo político a esta crescente franja da sociedade é, ainda assim, previsível. É uma quantidade brutal de gente que pode ser orientada a nível de voto, que tem, na sua crença, um ponto de vulnerabilidade que pode ser, e é, explorado por quem de interesse.

Li, já uns bons anos, o livro de Margaret Atwood, A história de uma serva, passado numa distópica sociedade norte-americana tomada por extremistas cristãos de extrema-direita, onde o papel da mulher é encolhido até ao de parideira sem direitos. Mesmo na época em que fiz esta primeira leitura, nunca vi a obra como uma peça literária de ficção científica, de fantasia ou nem mesmo de distopia. The handmaid’s tale era estranhamente real, possível. Uma das coisas que sempre compreendi ainda enquanto aluna do secundário (long time ago) foi que nenhum direito ou conquista se instalava na sociedade com carácter definitivo e irreversível. As sociedades evoluíam, retraíam, ganhavam direitos, deitavam-nos fora, ora olhavam para todos os seus cidadãos com genuíno interesse, ora expurgavam para as margens os indesejáveis.

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A história de uma serva, de Margaret Atwood, Bertrand Editora.

Quando vejo, no Irão, aquela mulher despida, uma espécie de aparição entre os seus lúgubres pares, vejo ainda, no mesmo scroll nas redes sociais, vídeos de uma nova trend, a das trad wife’s, mulheres tradicionais que ficam em casa seguindo ordens restritas dos seus maridos, cozinhando, limpando, cuidando dos filhos, vestindo-se de forma modesta, vejo uma dondoca brasileira apregoar o papel submisso da mulher para com o seu marido, papel inato e certificado por deus, vejo discussões sobre direitos que pareciam garantidos, como se ainda fosse necessário voltar a legislar sobre os direitos reprodutivos das mulheres, vejo um crescendo de comentários religiosos, como se a crença fosse pano que se pudesse ser passado por cima de tudo, desde o genocídio, à violação e abuso sexual, à pedofilia. Tudo.  

Nos E.U.A., vejo os direitos das mulheres serem revertidos nos estados mais conservadores, numa forma de controlo feminino quase medieval e, lentamente, uma legislação que parecia de carácter definitivo, torna-se de cariz periclitante, mesmo nos estados mais liberais.

E não deixa de ser interessante como, tanto para muçulmanos como cristãos, os direitos das mulheres são o assunto central das suas crenças. As três grandes religiões monoteístas têm a figura da mulher como obsessão central da sua ideologia. Uma obsessão quase a roçar o patológico. As vontades de deus andam sempre em redor do que a mulher pode ou não pode fazer, dizer ou pensar.

Margaret Atwood, numa das suas obras de não-ficção, fala sobre a catalogação do seu tipo de escrita e afirma que não quer que os seus livros sejam chamados de livros de ficção científica, pois tudo aquilo que escreve pode, de facto, vir a acontecer ou até já ter acontecido em algumas sociedades. Daí o termo da ficção especulativa ser o mais indicado. Não há fantasia na República de Gileade. E a autora sabe-o bem.   

E, assim, o seu livro A história de uma serva publicado originalmente em 1985, perde, a cada ano que passa, mais o seu carácter de ficção científica e distópica, para se aninhar na forte possibilidade.

Para acabar, como nota humorística, Margaret Atwood publicou nas suas redes sociais um cartoon que apelava ao voto nas eleições norte-americanas, fazendo alusão direta ao seu livro The handmaid’s tale, onde mostrava como o voto era a ferramenta de libertação feminina. A nota humorística chega quando um outro utilizador comenta, explicando erradamente as bases da história àquela que era a própria autora da obra. Um mansplaining na sua forma mais básica e banal.

Por enquanto, a arrogância desmedida da ignorância ainda é engraçada. Mas até quando?

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Eclipse de fogo

Nestes dias, as memórias colam-se à realidade, desdobram-se noutras tardes, réplicas umas das outras, reflexos repetidos infinitamente, como num jogo de espelhos, e aquilo que é o verão, enquanto memória intrínseca de uma pessoa, cimenta-se naquilo que não deveria ser, afasta-se de conceitos como praia, mar, viagens, gelados, diversão infantil, férias, assentando arraiais em terra queimada, cheiro a fumo, uma sensação de claustrofobia florestal, onde a árvore é parede intransponível e ameaçadora.

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Vem à memória um olhar para um sol peneirado pelo fumo, vem à memória sons de aflição de quem vê a destruição a chegar-lhe à porta, vem à memória um eclipse parcial na década de oitenta que, vai-se lá saber porquê, se cola às memórias de fogo, talvez pela sua irmandade de cores e solenidade associadas. Mas, pensando bem, ver este sol de terra queimada é como olhar para o céu num dia de eclipse, através de um vidrinho fumado ou de uns óculos especiais comprados na farmácia. O fogo permite olhar-se o astro bestial de frente, filtrado pela bruma de fumo ─ inocente, inofensivo.

A ambiência é laranja, as sombras matutinas escorrem, como se o crepúsculo se apressasse e não desejasse o dia, como se a tarde caísse ao amanhecer. Mas quando a noite chega, apesar dos seus céus rubros, não traz presente digno, apenas um vendaval, um vento ciclónico que confere surrealidade àquilo que de mais banal e corriqueiro existe: a vida lenta e repetitiva da aldeia.

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E este medo, que se fez memória de verão dentro de mim, não quer saber se a culpa é dos eucaliptos, se esta monocultura, que nos impingem como floresta, é o réu deste hediondo crime; se a floresta é negócio para as empresas de celulose e para aqueles que combatem os incêndios; se o lobby do eucalipto é força capaz de calar vozes que questionam, de atirar culpas em todas as direções, menos para os lados onde elas deveriam recair; este medo não quer saber se somos um país de piromaníacos, se somos maus ou simplesmente desequilibrados, se a nossa frustração ou solidão é força capaz de incendiar para chamar a atenção, se somos bêbedos, desgraçados e malucos; este medo não procura justificações naqueles que deveriam criar melhores políticas de gestão florestal, deveriam precaver a preservação da vida humana, da fauna e flora, dos milhares de vidas de animais (selvagens ou de companhia) e que, ano após ano, apontam culpados sem nunca procurar ações válidas de prevenção, como se os incêndios fossem o diabo de um cancro no estômago e a solução aplicada fosse uns sais de fruto para a indisposição sentida.  

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O meu medo alimenta-se do som grotesco do fogo a lavrar, como uma fera gulosa, insaciável. O meu medo vê as aves em debanda, em desorientação, o meu medo enche-se de fumo, sente o ardor nos olhos, os pulmões inflamados. O meu medo já não quer saber, porque para o ano há mais, numa cópia seca, torriscada, nebulosa, até a minha vida acabar.

E o verão, no fim, nada mais é do que este medo primitivo. E, a palavra – Primitivo – é resumo de tudo. Toda esta repetição sem consequências, toda esta perpetuação de uma memória de fumo e fogo, é primitiva, nos vários sentidos pejorativos da palavra.

Mas o meu medo não quer saber.  

 

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Escritas no feminino - sugestões

Tenho dedicado os últimos meses à leitura exclusiva no feminino e quando se lê apenas no feminino, mais facilmente se percebe as subtis (e não tão subtis) diferenças entre a escrita feminina e masculina. Se posso concluir que as diferenças notadas serão características exclusivas da escrita feminina, obviamente que não. Mas serão certamente mais frequentes ao ponto de se tornarem fatores característicos.

E uma dessas características é a narrativa não totalizante, mais fragmentada, que não procura dar respostas e que se fixa naquilo que a vida é: retalhos, fragmentos, perguntas sem resposta ou com respostas insatisfatórias, felicidade transitória, descontinuidade e confusão. Há uma espécie de serenidade na consciência da impossibilidade de se abarcar o mundo todo e de se chegar a uma felicidade completa e dominante. 

Comecei por ler dois livros (para fins académicos) de não ficção:

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 Communities of Women - An idea in fiction, de Nina Auerbach

Um quarto só seu, de  Virginia Woolf

O primeiro livro fala sobre a representação das mulheres, enquanto personagens em comunidade, na literatura, explorando alguns exemplos literários em que as mulheres aparecem como uma comunidade feminina. Apesar de ser um livro já com alguns anos (1978), pareceu-me de grande contemporaneidade. Há um fator de estranheza, ainda agora, quando vemos retratadas, em livro, uma comunidade (seja familiar ou social) exclusivamente ou dominantemente feminina. Mas não sentimos semelhante estranheza quando se passa com comunidades masculinas.

O livro de Virginia Woolf não fala na representação da mulher enquanto personagem, mas é um ensaio sobre a mulher enquanto criadora, enquanto escritora. Publicado originalmente em 1929, este ensaio que é baseado em duas conferências dadas pela escritora na época, embora possa ser visto como algo datado (felizmente, alguma água passou pelos nossos moinhos), ainda assim é essencial para percebermos aquilo que está na base daquilo que a mulher é hoje, como criadora, como autora, na sociedade atual. O presente não é feito sem conhecimento do passado e o nosso passado é aqui, nesta obra de Woolf, sagazmente explorado. E, apesar do passado parecer passado, o melhor é ir olhando para ele, de forma a se evitar que ele teime em ser presente.

Na ficção, li dois livros de duas autoras internacionais e dois livros de duas autoras portuguesas.

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O pequeno amigo, de Donna Tartt.

O acontecimento, de Annie Ernaux.

Já tinha lido dois livros de Donna Tartt (O Pintassilgo e A história secreta) e resolvi comprar este livro que, cronologicamente falando, foi o segundo romance da escritora. Donna Tartt reúne duas características que parecem antagónicas, mas que para mim, enquanto leitora, funcionam bem: consegue ser bastante descritiva, demorar um tempo desmesurado em pormenores, e, ainda assim, consegue injetar na narrativa um determinado suspense que transforma os seus livros em page turners. Senti isso n’ O Pintassilgo e na História secreta, mas nem tanto com esta obra. A dada altura confesso que fiquei um pouco desmotivada, sem que isso me levasse a abandonar a leitura. No entanto, quando cheguei ao final, o livro aterrou-me todo em cima. Ao contrário das outras obras da autora, em que havia uma necessidade de tudo ficar explicado e mais explícito, este livro tem esta característica de ser real, como a vida - nem sempre temos resposta para tudo, nem sempre as coisas fazem total sentido e nem sempre as pessoas são exclusivamente boas ou más. É tudo bem mais complicado do que isso. E foi esta incompletude, esta sensação de falta que me fez gostar bastante do livro.

Relativamente ao livro de Annie Ernaux, li-o de uma assentada. Não tenho palavras para descrever os livros de Ernaux. Ou seja, não tenho palavras para descrever o que sinto ao ler os livros de Ernaux. Gasta-se muito o adjetivo brutal, mas será o melhor adjetivo. Brutal. Ernaux é crua na sua escrita e fala-nos com uma espécie de distanciamento necessário. Os acontecimentos de uma vida não são retratados para explorar emocionalmente o leitor. A força do que é descrito está, não na exploração emocional, mas na sua vista banal. Cada vez gosto mais da escrita de Annie Ernaux.  

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A história de Roma, de Joana Bértholo.

Teoria das catástrofes elementares, de Rita Canas Mendes.

Quando terminei o livro de Joana Bértholo, andei umas horas a cismar pela casa. Depois, abri o bloco de notas no telemóvel e escrevi: há livros que, ao terminar a última linha e fechando-se a capa, dizemos: gostei. Há outros que nos deixam desarrumados.

Bértholo deixou-me assim, como um quarto desarrumado, com tralha espalhada por todo lado. Como já deve ter dado para perceber, não sou muito de conseguir fazer um resumo da história (ou talvez seja capaz, mas não me interessa tanto), focando-me mais neste canal que sou, enquanto leitora (que também escreve). E esta História de Roma mexeu comigo enquanto leitora. Achocalhou-me, desarrumou-me e, placidamente, ficou especada a ver o meu desnorte. Joana Bértholo merece todos os prémios que por aí venham. Quando for grande, quero ser assim: como ela, como Annie Ernaux, como Donna Tartt e também como a minha mais recente descoberta, a Rita Canas Mendes. Quero ser como todas elas.

O livro de Rita Canas Mendes está construído tal como eu mais gosto: capítulos que parecem pequenos contos, numa união narrativa em fragmentos, como a vida numa soma de pequenos/grandes momentos. Como gosto de escrever assim, achei Teoria das catástrofes elementares como uma viagem a um local onde me sinto bem, me sinto à vontade, um local onde há muito o que explorar, mas onde me sinto acolhida no meio do caos. Mais uma vez, é esta característica da vida em retalhos, do incompleto e do indizível, que torna este livro uma agradável surpresa.

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Derry Girls, criado e escrito por Lisa McGee (disponível na Netflix).

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Decameron, criado por Kathleen Jordan (disponível na Netflix).

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Campo de papoilas, com argumento de Ioana Moraru (RTP2, disponível em RTP Play).

Na escrita para cinema e televisão, destaco Derry Girls como a série mais divertida que vi nos últimos tempos. É daquelas coisas que se pode dizer sem medo: está tudo bem nesta série – argumento, realização, interpretação, banda sonora. Tudo. Com uma escrita apurada, Lisa McGee conseguiu mostrar os fragmentos que compõem um país, as suas dissonâncias, as suas brutalidades (a Irlanda do Norte, nos tempos do IRA), inserindo todos estes aspetos como elementos do quotidiano na vida de um conjunto de adolescentes. É daquelas séries que sei que vou rever e, na qual, do alto dos meus 45 anos, encontro reconfortáveis referências e identificações, apesar das diferenças a nível político e social.

Decameron é também muito interessante e com um humor que identifico como muito feminino. Há algo no caos, na desordem e no desespero (retrata a história de várias pessoas durante a peste negra, quando se refugiam numa quinta no campo, para fugirem à doença), que torna a série estranhamente cómica e é essa estranheza do humor no caos que a faz ser tão brilhante. Gostei bastante e vi num fim de semana.

Por último, o Campo de Papoilas tem um argumento que não é convencional. Parece que estamos a ser levados para um lugar, desviamo-nos para outro (que era o lugar onde era suposto estarmos) e depois o filme acaba, deixando-nos a desejar um regresso ao lugar inicial. Fiquei um bocado a pensar naquilo e, a nível de história, estava ali tudo o que realmente era o que deveria ser contado, mas o desenho convencional dos argumentos e das narrativas, no geral, deixa-nos a braços com a vontade de um desenlace romântico, quando o que estava em causa nesta história era outra coisa. O foco era o desconforto de um polícia homossexual dentro de uma corporação policial obviamente homofóbica e tóxica, e quando esse desconforto transforma o polícia homossexual, o molda a esse ambiente, o deixa num limbo estranho de aversão/conhecimento/aceitação ou tolerância por parte dos seus pares. Achei bastante interessante, precisamente por me deixar essa sensação de incompletude e por não preencher os meus desejos narrativos, enquanto espetadora. Escrita pouco convencional e, se não o fosse, o mais certo era não ter pensado mais no filme.

 

Que nunca a liberdade seja tomada por garantida!

Há onze anos, andava eu a pesquisar para a minha tese de mestrado sobre a publicação de manuais de conduta para mulheres durante o Estado Novo, passando dias inteiros enfiada na Biblioteca Municipal do Porto, entre livros mofentos (no sentido literal e figurativo). Quando mais investigava, mais pilhas de livros me apareciam na secretária. A primeira metade do século XX estava pejada de publicações deste tipo de manuais. Havia uma necessidade óbvia de formar a mulher para que ela encaixasse num molde de submissão, um molde que não permitia extravasamentos. Li páginas e mais páginas de como a mulher se devia comportar, como devia gerir a casa, como devia se submeter ao marido, como devia criar e educar os filhos, como devia ser temente a deus e se resignar (com alegria) ao seu papel de mãe, dona de casa, cuidadora e educadora. À mulher, estava reservada a santíssima trindade: lar, marido e filhos. E era triste ver livros editados originalmente no século XIX (em vários países da Europa), serem considerados, em meados do século XX, nas suas edições e reedições portuguesas, livros de vanguarda para a conduta feminina.

Em 1950, o século XX teimava em não chegar a terras lusas.

E embora as minhas pesquisas tivessem o seu quê de depressivas, sessenta e setenta, oitenta anos pareciam uma eternidade. Eu sentia uma enorme segurança na passagem do tempo. Todo aquele discurso encerrado naquelas páginas era obsceno e feria-me, mas via-o à distância, como uma peça histórica de museu, um mundo e uma visão que tinham ficado no passado.

A situação complicou-se quando comecei a fazer pesquisa bibliográfica para fins comparativos, de forma a estabelecer uma análise de fratura ou continuidade entre os diferentes períodos políticos. Qual seria a visão sobre as mulheres entre 1900 e 1932 (um período que ia da monarquia, à instauração da República, até à implementação do estado Novo)? Seriam aquelas publicações dos manuais de conduta femininos durante a ditadura uma continuidade do que já vinha a ser publicado no início do século ou, num contraste, uma fratura com o passado?

Em cima da escrivaninha da biblioteca, pousaram-me dois livros de Ana de Castro Osório. Um deles, Às Mulheres Portuguesas, publicado em 1905, ainda durante a Monarquia, e o outro, A mulher no casamento e no divórcio, publicado após a instauração da República, em 1911. Ler Ana de Castro Osório era como tê-la à conversa ali ao meu lado, mas num português de outros acordos ortográficos. Não havia bolor nas suas palavras e cem anos faziam-se num nada ali ao virar da esquina. Havia um fulgor combativo, uma necessidade de mudança nas suas palavras e havia ainda uma compreensão de que a mulher não era apenas aquela do seu grupo social e intelectual. Num Portugal rural do início do século XX, a mulher era analfabeta, beata, devota a deus e ao trabalho e à família e Ana de Castro Osório percebia que havia muito por onde a mudança lavrar, que havia muito terreno a desbravar, mas havia nas suas palavras a confiança nessa mudança.

Quando comecei a ler o livro publicado após a instauração da República, A mulher no casamento e no divórcio, acabei por desabar. Não exagero nem estarei a efabular para fins literários se vos disser que chorei. Estava sentada numa biblioteca pública, com um livro com mais de cem anos entre mãos, a limpar as lágrimas que me iam caindo rosto abaixo, para não as deixar macular as preciosas folhas centenárias.

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A mulher no casamento e no Divórcio, Ana de Castro Osório, 1911.

Num livro que analisava as recentes alterações jurídicas implementada após a instauração da República, leis que finalmente configuravam o direito da mulher ao divórcio, mas também à educação e ao voto, a alegria de Ana de Castro Osório transpirava em cada linha. Ela percebia que ainda havia muito a fazer, mas a máquina da mudança, a tão necessária transformação do papel da mulher na sociedade, estava em movimento. E aquele tratado feminista em forma de compêndio jurídico fez-me chorar, não pelo que tinha escrito nas suas páginas, mas por tudo aquilo que eu sabia que lhe procederia.

“Minha queria Ana, a seguir virá o caos, a seguir virá o obscurantismo. A seguir serás silenciada, a seguir a tua carreira literária ficará reduzida à literatura infantil, a seguir as tuas palavras serão consideradas um atentado ao pudor, palavras blasfemas, contra a moral e os bons costumes. A seguir estas leis serão revogadas e à mulher restará o lar e a submissão ao marido. A seguir virá o silêncio”.

E se vou esquecendo, por vezes, aquela tarde na biblioteca, tem dias em que as notícias da atualidade a trazem de volta, com a força da necessidade da lembrança.

Naquela tarde de 2013, adquiri o mais precioso conhecimento de toda a minha vida académica: não há liberdades garantidas e irrevogáveis. A luta tem de ser permanente, constante e contínua, porque, mal baixemos a guarda, não faltarão aqueles que se aproveitarão da nossa imobilidade para nos submeter aos seus ideais podres, bolorentos e arcaicos.

Nos cinquenta anos de Abril, só desejo que nenhuma mulher do futuro leia relatos da nossa época com semelhantes lágrimas nos olhos às que verti quando li as sábias palavras de Ana de Castro Osório.

Que as nossas liberdades sejam tesouros que preservemos a todo o custo e que nunca as olhemos com os olhos da indiferença e do hábito. Porque num repente, numa nossa desatenção, a distopia pode fazer-se realidade.

Young Royals - os milagres de Santa Lisa

Não serão muitos os casos em que espetadores de séries e filmes saberão quem são os argumentistas por detrás do que acabaram de ver. Quando uma série tem sucesso e se segue uma outra do mesmo criador, talvez aí o argumentista tenha direito, a nível de divulgação e promoção da obra, a uma referência do tipo «do mesmo criador de… », mas nem aí o destaque merecerá sequer a referência do nome. No caso dos filmes, temos ainda muitos casos em que realizador e criador da ideia/argumentista são a mesma pessoa, o que acaba por facilitar o reconhecimento. Mas tirando estas exceções referidas, parece que o reconhecimento de um escritor por detrás de uma obra está como que reservado à área da literatura. Aos argumentistas, mesmo que a ideia do mais espetacular filme e série lhes tenha saído da cabeça, está-lhes destinado um já muito habitual anonimato. Sabemos nomes de atores, com menos frequência nomes de realizadores, mas argumentistas… nem por isso.

E se comecei este texto com este preâmbulo, foi porque vou apresentar uma interessante exceção à regra. Há três anos, dou por mim num sábado chuvoso a tentar descortinar algo novo para ver na Netflix. Apareceu-me uma sugestão de uma série sueca, que me pareceia ser do segmento Young Adult. Nesta área, vou vendo algumas coisas muito selecionadas, porque acabo por achar algumas séries com uma escrita muito pobre e básica. No entanto, fora dos circuitos anglo-saxónicos por vezes aparecem algumas coisas bastante interessantes ou, pelo menos, diferentes de um certo padrão já instalado. Assim, numa escolha que se revelou fatal (pela adição que criou) dou por mim a ver Young Royals. Em 2021, tinha saído apenas a primeira temporada de seis episódios, seguiu-se uma segunda temporada em finais de 2022 e a terceira e última temporada em Março de 2024.

E o que parecia uma série de adolescentes rapidamente se revelou muito mais do que isso. Nos seis episódios da primeira temporada temos jogos de tensão muito bem construídos (embora sempre numa estrutura narrativa clássica), mas sem nunca deixar que a construção de personagens caia em nenhum tipo de estereótipo e facilitismo. As personagens são densas, complexas e, embora haja um aparente antagonista, os protagonistas são, como todos nós, propensos ao melhor e ao pior. Não há maniqueísmos nesta escrita televisiva.

Logo após esta primeira temporada, não só a série ganhou visibilidade como a própria criadora e argumentista, Lisa Hamjörn, se tornou uma figura de interesse nas redes sociais, a par dos jovens atores da série.

Com a segunda e terceira temporadas, a importância de Lisa cresceu de forma exponencial. A série sueca começou a criar uma tal base de fãs, que o destino de personagens e o desenvolvimento narrativo pareciam depositados nas mãos de Hamjörn e esta tornou-se o alvo de toda a atenção dos milhares de fãs da série. Não havia promoção da série sem Lisa, não havia entrevista sem Lisa, não havia fandom sem a Santa Lisa.

Se na segunda temporada temos seis episódios de pura tensão e de nervos em franja, com a terceira e última temporada podemos finalmente perceber a qualidade da escrita no seu todo.

E se os fins são sempre algo agridoces, o fim desta série não escapa à regra. Doce, porque finalmente se consegue ver a história como um todo, amarga, porque acabou para sempre.

No entanto, para mim, enquanto pessoa que gosta de escrever, é maravilhoso perceber como uma singela série juvenil tem um plano de escrita que engloba todas as temporadas, que não deixou nada ao acaso e que onde tudo parece pensado desde o início, tendo sempre em vista apenas os 18 episódios, sem ambições de novas temporadas que só destruiriam a história. E este plano passa por aspetos de escrita que englobam coisas como o guarda-roupa, a luz, elementos que acrescentam camadas à narrativa e suas personagens. Mesmo pequenas coisas que pareciam ter ficado penduradas, palavras ditas que pareciam não ter levado a lado nenhum, ataram-se na perfeição com o que ainda estava para vir. Há ainda dois outros aspetos de escrita que me interessaram bastante: as questões dos paralelismos e do simbólico. As três temporadas têm muitas cenas espelho, que caracterizam personagens, através do paralelo (seja pela semelhança ou contraste), que revelam mais sobre a complexidade daquelas pessoas, do que os diálogos em si. O simbólico está presente em toda a série, mas, no último episódio, é interessante como a escrita através do símbolo acaba por revelar o desenlace final de toda a trama, mesmo quando tudo parece ir em sentido contrário. Nos últimos dez minutos, apesar de Lisa ter levado o espetador até a um beco de medo, desespero e choro, ela já nos tinha mostrado antes, através do simbólico, como nos estava a enganar, como tudo iria acabar.

Também a introdução de elementos de reflexão está muito bem-feita, entrando na escrita da série sem ser de forma forçada. As questões das microagressões raciais, a homofobia, as diferenças de classes e respetivos privilégios de umas em relação às outras, as doenças mentais e seus impactos, as adições, etc., todas estas coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia e que vemos introduzidas na escrita desta série com muita elegância e mestria, sem parecer que se está a introduzir elementos de exploração emocional só porque sim.

Por último, o que nesta escrita mais me fascinou foi a construção de personagens “reais”, no sentido em que ninguém é absolutamente bom ou mau. O arco das personagens, da primeira à terceira temporada, é perfeito. Tratando-se de adolescentes, nem todos os comportamentos, mesmo dos dois protagonistas (Wilhelm e Simon), serão sempre exemplares, consistentes, lógicos. E, no que diz respeito ao vilão/antagonista, passamos de um ódio visceral por aquela personagem irritante e miserável (August), para uma total compreensão da gênese daqueles comportamentos. Esta brincadeira com a perceção dos espetadores através da construção da personagem é fabulosa e, acima de tudo, muito relacionável. Há um fator de identificação, a dada altura, com toda e qualquer personagem. Todos nós já fomos bondosos e execráveis, amorosos e impacientes, altruístas e profundamente egoístas e é esta sensação de estarmos perante pessoas verdadeiras, com histórias verdadeiras, que cria este fenómeno de popularidade da série.

E foi este desenvolvimento das personagens, ao longo de 18 episódios, que me revelou a qualidade da série. Quando vemos o último episódio e nos vemos remetidos para a lembrança do primeiro episódio de todos, percebemos como tudo faz perfeito sentido, mesmo dentro de todas as ambivalências próprias de qualquer adolescente ou jovem adulto. O final é como o desenlace óbvio, mas que, ainda assim, não estávamos à espera.

Os fãs da série, antes da estreia da última temporada, rezavam a Lisa Hamjörn para que não os dececionasse. Se ela não lhes podia dar mais do que estes últimos seis episódios, pelo menos que estes «terminassem bem». E, depois de muitas preces, Lisa atendeu-os. Com um absoluto domínio de gestão de tensão e de construção de personagens, Lisa e a sua equipa de escrita fez o milagre.

Young Royas acabou, mas foi majestoso enquanto durou.

Depois desta série, de ter visto algumas entrevistas com a argumentista, a vontade de expandir a minha escrita para os domínios do argumento aumentou. Por vezes não é necessário um aparato disruptivo para se fazer algo com qualidade. E, por vezes, também não é necessário abandonar modelos clássicos de escrita televisiva para se fazer algo com interesse.

Assim, quando for grande gostava de fazer milagres como a Santa Lisa.

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Lisa Hamjörn

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Omar Rudberg e Edvin Ryding (6 episódio da 3ª temporada, Young Royals).

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