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Quimeras e Utopias

Quimeras e Utopias

Museu Vasa

O céu estava cinzento, carregado de pesadas nuvens escuras, e nevava. Era um dia frio de fevereiro. Apesar do cenário invernoso, a paisagem era idílica. A cidade coberta de branco e os pináculos de igrejas ou outros edifícios altos a sobressaírem como torres de palácios de um conto de fadas. Há cidades que nem o pesado inverno, as bermas das estradas enlameadas de neve derretida, o desconforto do frio e da roupa húmida, conseguem apagar a magia daquele local. Estocolmo é assim.

 

Caminhávamos e ao longe já conseguíamos vislumbrar uns gigantescos mastros a «rasgar» um edifício na pequena ilha de Djurgården. Visualmente estranho, como se um feiticeiro tivesse feito crescer um pequeno barco de brincar ao ponto deste, dentro de casa, crescer, crescer e irromper pelo teto do edifício, até ao tamanho de um navio de guerra gigantesco.

Vasa.jpg

Imagem retirada daqui.

 

Todos os museus, maiores ou mais pequenos, em grandes cidades ou perdidos numa pequena localidade, são fonte de conhecimento. O seu espólio, a arquitetura do edifício, atraem aqueles que os visitam e são, em regra, promotores da difusão histórica, artística, científica ou natural de um local.

 

Museu Vasa é isso, mas consegue transpor essa fronteira para um domínio da fantasia, das viagens no tempo, consegue transportar o visitante para uma realidade paralela distante.

 

É a arquitetura do edifício, os mastros a crescerem rumo ao céu, o espólio bem preservado, mas é também a história por trás, a história do próprio navio Vasa que nos transporta a um imaginário de outros tempos.

 

Em 1628, o navio de guerra Vasa deixava o porto de Estocolmo na sua viagem inaugural. Para assinalar a importante data sua primeira viagem, foram disparados tiros de canhão das canhoeiras laterais do navio. Infelizmente, quando se aproximavam da saída do porto, umas quantas rajadas de vento fizeram tombar a embarcação, a água entrou através das canhoeiras ainda abertas, levando o navio a afundar-se ainda no porto. Dos 150 tripulantes, estima-se que entre 30 a 50 tenham perdido a vida, submergindo juntamente com a embarcação.

 

Vasa_3.jpgVasa_2.jpg

 

 

Vasa jazeu debaixo de água durante 333 anos. Nos anos cinquenta do século XX, Anders Franzén começou a procurar o navio, encontrando-o, mas ainda demoraram alguns anos de preparação para que o Vasa voltasse a ver a luz do dia. Em 1961 voltou à tona, onde se seguiram anos de recuperação, apesar do navio e seu recheio, devido ao tipo de águas (salobras) onde se tinha afundado estar em relativo bom estado de conservação. Agora, o Vasa é o único navio de guerra do século XVII existente no mundo. Com o Vasa, foram recuperados inúmeros objetos, magníficas estátuas decorativas do navio e artefactos vários que compõem o espólio atual do museu. Para além das peças pertencentes ao navio, o Museu Vasa tenta ainda reconstruir no seu espaço fragmentos da época histórica do Vasa, através da reconstrução física através dos restos mortais de alguns tripulantes da embarcação, das suas roupas, objetos pessoais e costumes da época.

 

O Navio Vasa, com todos os seus detalhes arquitetónicos intrincados, ergue-se à frente dos visitantes não como um achado deslocado do seu tempo, mas como uma imagem inserida na sua época. Se nos abstrairmos do burburinho dos outros visitantes, mergulhamos numa Estocolmo de 1628, sentimos-lhe o cheiro, ouvimos-lhe os sons, captamos um pouco da alma daqueles tempos. O colosso que é aquele navio quase magicamente preservado ao longo de quase quatro séculos, é de tirar o fôlego pela sua imponência.

 

Dos vários museus que visitei na Suécia, este foi, sem sombra de dúvida, o mais memorável. Não é um museu, é uma cápsula do tempo.

Mas esta pequena ilha, Djurgården, tem ainda outros dois museus de visita obrigatória para quem visita Estocolmo: Museu Nórdico e Skansen.  

 

 

 

3 comentários

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    Sónia Pereira 24.02.2017

    A primeira vez que visitei Estocolmo foi por acaso. Eu e o meu marido decidimos um bocado à sorte uma viagem para uma estadia de 4 dias. Nem sei bem explicar porquê, mas fiquei «apanhada» por aquilo. Não direi que as pessoas sejam tão exuberantes como as do sul da Europa, porque não são, e a ambiência dos locais, da arquitetura, da natureza transmite isso mesmo, essa reserva, mas o facto de sentir um certo prazer na introversão, fez-me apreciar muito o país. Regressei depois para uma viagem louca de duas semanas. Primeiro Estocolmo, depois fomos até Kiruna, que fica no norte do país, no círculo polar ártico, aí alugamos um carro e fizemos a viagem pela Suécia a baixo à aventura, sem nada marcado.
    Apesar das diferenças óbvias entre povos do norte e do sul, há certos aspetos que são francamente positivos. Os suecos não ligam às aparências, disfrutam de uma forma desprendida das coisas (quando está sol, quando chega o verão, não sentem preconceito em se exporem ao sol mesmo em locais mais públicos) e essa forma aligeirada de viver, de aproveitar a vida agradou-me. Acho que são mais genuínos na forma como se apresentam, sem falsas cortesias.
    Quanto às fotos, acho que acabamos por revisitar mais mentalmente os espaços do que revemos fotografias. Fiquei triste quando um virus no PC quase desapareceu com todas as fotos do disco, mas, a memória acaba por ainda ser o melhor disco rígido que existe.
    Já me fizeste rir com o teu post sobre os blogs de viagem. O óbvio parece que ainda não é muito óbvio para alguns e depois, uma grande parte das pessoas parece sofrer de narcisismo agudo. Se não aparecem na foto, lá devem julgar que o pessoal não acredita que lá estiveram. Mas não posso criticar. Olho para o que escrevo e isto não é um guia de viagens, não faço crítica literária, é mais uma miscelânea mal organizada de várias coisas juntas.
    Olha, já estive em Londres e Barcelona, mas confesso que não visitei os Museus Marítimos. Tudo o que «nos faça tirar os pés do chão», será sempre uma visita de eleição. Espero no futuro poder seguir as tuas sugestões e fazer essas visitas.
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    Robinson Kanes 24.02.2017

    Ena, que experiência… das que não aparecem em blogs de viagens.

    Sim, os nórdicos e os alemães se confiam em ti e tu neles… amigos para vida! Não são bajuladores e é mesmo isso que dizes, sem falsas cortesias. No sul vê-se mais isso. Penso que ainda temos um certo preconceito em relação a eles. Eles aproveitam o sol, a chuva, o vento, tudo é aproveitado ao máximo, sobretudo, tudo o que não é material. E a cultura de trabalho deles é qualquer coisa, muito do que sei e promovo profissionalmente foi um cruzamento de influências anglo-saxónicas, nórdicas e germânicas. Talvez por isso Portugal esteja a ficar cada vez mais longe para mim...

    Ao de Londres ainda não fui, fica em Greenwich perto do Observatório e é lá que está o Cutty Sark… agora não tens como não ir :-) (e eu também não).

    O de Barcelona é mesmo aqui ao lado e é numas velhas docas e oficinas mesmo em frente ao Port Veill.

    Tenho de pensar em Estocolmo, mas ainda me falta tanta coisa para ver :-)
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