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Quimeras e Utopias

Quimeras e Utopias

Manuais de conduta para mulheres (repost)

Em 1909 começam a ser editadas em Portugal as traduções da tetralogia de Paul Combes, com o título geral de Os quatro livros da mulher e durante quase cinquenta anos os quatro livros que compõem esta obra são reeditados por diversas editoras portuguesas. O livro da esposa, O livro da mãe, O livro da Educadora e O livro da dona-de-casa são obras que pretendem modelar a mulher nas únicas quatro facetas que lhe estavam socialmente disponíveis — esposa, mãe, educadora (dos próprios filhos) e dona-de-casa.

 

Se noutros países da Europa e além Atlântico, nos E.U.A., a luta pela emancipação feminina era já um fenómeno expressivo desde o início do século XX e que tinha eco nas publicações editoriais dirigidas às mulheres, por cá, em Portugal, alguns livros de carácter emancipatório tiveram ainda a oportunidade de chegar ao prelo, mas após a constituição do Estado Novo, em 1933, as publicações dirigidas às mulheres resumiam-se a edições redundantes de carácter formativo, que tentavam colocar a mulher no local que Estado e sociedade da época lhe achavam devido — o lar, como dona de casa, esposa e mãe.

 

Assim, apesar de Paul Combes ter escrito uma obra em finais do século XIX, inícios do século XX, que poderia ser considerada desatualizada, fundamentalista e sexista, chegando aos anos de 1950, esta obra ainda era publicada no nosso país, formatando as mulheres da época, reduzindo-as a um papel secundário, subalterno e subordinado ao papel masculino na sociedade da época. Mas Combes não estava sozinho, foram centenas os livros publicados, com diversas reedições, maioritariamente de autoras portuguesas, que funcionavam como manuais de boa conduta, gestão doméstica e educação feminina.

 

Pelos anos de 40 e 50 do século XX, no que diz respeito à publicação de autores estrangeiros nesta área específica da edição dirigida a leitoras do sexo feminino, os que permaneciam reeditados eram aqueles cujas obras tinham edição original mais antiga (edições originais entre 1890 e 1910). Com as mudanças que surgiam internacionalmente, eram escassas as novas obras de índole conservadora publicadas por autores estrangeiros. Orgulhosamente sós, as edições dirigidas às mulheres tentavam a todo o custo manter a mulher portuguesa refugiada num passado conservador, tradicional, onde o lar tinha de chegar para cumprir os seus sonhos e expetativas de vida.

 

Livro da esposa.jpgLivro da educadora.jpgLivro da mãe.jpglivro da dona de casa.jpg

Os Quatro Livros da Mulher, Paul Combes, Editora Educação Nacional

 

 

Mais do que nunca chegou a hora de as educadoras cristãs velarem pelos seus filhos, reagindo contra as modernas tendências tão funestas.

Pág. 125, Paul Combes – O livro da Educadora. Editora Educação Nacional, 1948, 4ª Edição

 

É que o dever – que chamaremos essência – da dona de casa não é trabalhando na vida exterior, por mais nobres e louváveis que apreçam as obras. O seu primeiro dever é a organização, a direção do lar familiar.

Pág. 129 O livro da dona de Casa – Paul Combes, 1934, 4ª edição

 

O mérito da mulher é governar a sua casa, fazer feliz o seu marido, consolá-lo, alentá-lo, e educar os seus filhos, isto é, fazer deles homens.

Pág. 10, Paul Combes, O livro da mãe

 

As leis gerais da natureza – confirmadas pelas leis divinas, por meio da Revelação, e pelas leis humanas – assinalam à mulher a missão de companheira do homem.

Pág. 2, O livro da esposa, Paul Combes

 

 

2 comentários

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    Sónia Pereira 19.01.2017

    Em meio século muito mudou, mas a mentalidade representada nestes livros ainda tem raízes na nossa sociedade. Não podemos esquecer o passado para empreendermos esforços para melhorar o nosso futuro enquanto mulheres.
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